sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

Crítica Cinema | Os Fabelmans

(Uma homenagem ao cinema clássico) 


Um retrato profundamente pessoal da infância americana do século XX, Os Fabelmans, de Steven Spielberg, narra a história de um jovem (Gabriel LaBelle) que descobre um segredo familiar devastador e revela o poder dos filmes para nos ajudar a ver a verdade sobre os outros e sobre nós mesmos. Elenco ainda conta com Michelle WilliamsPaul DanoSeth RogenJeannie BerlinJulia ButtersRobin BartlettKeeley KarstenJudd Hirsch, entre outros. Direção de Steven Spielberg. Distribuição nacional da Universal Pictures. Estreia nos cinemas brasileiros em 12 de janeiro de 2023. Para o trailer, clique aqui

Os Fabelmans (The Fabelmans)


O que pode ser dito sobre ele que já não tenha sido falado? Estamos nos referindo a Steven Spielberg, diretor deste novo filme. Com uma fama internacional absoluta, já dirigiu 35 títulos, foi produtor de 48 e roteirista de 4; e recebeu quatro prêmios “Óscar” (dois como diretor, um como produtor e outro especial, pelo conjunto da obra). Sem contar as outras premiações de prestígio internacional (BAFTA, Globos de Ouro etc.) É o maior arrecadador da cinematografia (mais de 10 bilhões de dólares até 2018). Quem não o conhece? O leitor pode escolher seu título favorito da extensa lista - que não enumeramos aqui para evitar ser excessivamente detalhistas. Com esse currículo como introdução, podemos ir para esta última realização. Antes do início do filme mesmo, Spielberg encara a câmera e nos diz que o que virá é um relato sobre sua família e, também, sobre cinema. Os Fabelmans é isso: um trabalho cinematográfico construído sobre esses dois eixos. Podem-se dividir suas 2h31 de duração em duas partes: a primeira, onde a infância e adolescência constituem o núcleo narrativo, nostálgico e com toques engenhosamente cómicos e a segunda, onde os filmes e o cinema prevalecem envoltos numa ênfase dramática - ainda que ambas temáticas e perspectivas coexistam.


Peço ao leitor que me permita resumir a identificação que tive com muitos elementos que estiveram na infância de Spielberg - segundo o filme - e a minha e que transcorreram com pouca diferença de anos. O gosto e incentivo de sua família, especialmente a mãe, pelo cinema. Essa experiência de ir com os pais a ver os primeiros filmes na vida e que, por azar, foram bastante traumatizantes, mas que, ao mesmo tempo, aproximaram a criança ao cinema. Eu, já sozinho, pouco tempo depois, assistindo curtas-metragens em preto e branco (de Chaplin e outros cômicos) e anos mais tarde aos longas-metragens de faroeste e bélicos, consolidaram essa experiência vital. Porque, como diz a mãe (representada por Michelle Williams), “filmes são sonhos que você nunca esquece”. E como resume um cartaz publicitário, este é “O maior espetáculo da Terra”. Aparece também a atração pelos trens como brinquedos, no caso do protagonista com uma formação elétrica, no meu mais modesto, com deslocamento apenas mecânico, manual. Como o pai de Spielberg, o meu também fabricou brinquedos, só que em madeira. Talvez aí parem as coincidências, porém isso me criou uma forte identificação com este filme. O olhar nostálgico está garantido e resulta duplo: para o protagonista-diretor e para quem assiste. Será que com os outros espectadores acontecerá algo similar? Se fosse assim, o valor universal de Os Fabelmans aumentará.


Nessa altura, já na década de 1960, nossas histórias se separam e, aos poucos, o filme vai deixando para trás as piadas e a nostalgia para entrar na vida juvenil bastante conflituosa. Tanto no plano familiar como no pessoal, em confrontos com garotos intolerantes, sendo vítima de ‘bullying’ - aqui retornam as semelhanças com quem isto escreve. Também o vínculo com os filmes vai defrontar ao jovem (representado por Gabriel LaBelle) com escolhas muito angustiantes e decisivas: a família de algum modo, contra a condição de cineasta. (No meu caso, sou “apenas cinéfilo”, amante do cinema. Não fazedor de filmes. Aliás, vamos dizer que falar de filmes é, pelo geral, referir-se a um plano mais limitado, específico, e falar de cinema é fazê-lo apontando a uma dimensão mais ampla e até com uma concepção mais abstrata e próxima do artístico.) Comentamos antes que no âmbito familiar aparece um conflito muito sério, de difícil solução (se é que a tem). Conflito que se espalha por toda a família, com muita dor, com uma intensidade pouco menos que intolerável para todos. Por isso, nesta segunda parte de Os Fabelmans, o drama prevalece. Talvez para compensar, aparece o amor…


Steven Spielberg, diretor e co-roteirista, conhece o ser humano e sabe como explorar essas emoções e como filmá-las. Tony Kushner, é o outro roteirista - dramaturgo ganhador do Prêmio Pulitzer -. Sem dúvidas tem ajudado muito para conceber este filme, feito como pretende Spielberg, para ser visto só na telona das salas, junto a outras pessoas, compartilhando emoções. Houve já outras obras que contam o vínculo de crianças com o cinema. Por exemplo, no ano passado o inglês Kenneth Branagh ganhou o Óscar de roteiro original por “Belfast”. Tanto Branagh como Spielberg-Kushner, tiveram cronologicamente como antecedente a “Cinema Paradiso” (1988, G. Tornatore). Boas atuações e profissionais altamente gabaritados consagram um título muito bem concebido e realizado: a fotografia de Janusz Kaminski (53 longas, alguns nesta parceria), a edição de Sarah Broskar e Michael Kahn, e a música de John Williams (nesta oportunidade não tão brilhante, porém muito adequada) são pontos elevados. O filme se fecha com uma cena perfeita: a conversa - real, fictícia, pouco importa - entre o jovem cineasta Steven Spielberg com quem para mim é o maior nome do cinema de todos os tempos: John Ford. Interpretado de modo magnífico por David Lynch (quem melhor que ele?), é um momento inesquecível. Ao ponto tal que, como poucas vezes acontece nas salas, consegue aplausos. É um reconhecimento a esse mestre e, talvez, uma aula de linguagem cinematográfica. Ninguém melhor que John Ford para isso e, quiçá, poucos como Spielberg para representá-lo na tela. Um último detalhe está no derradeiro final - após todos os créditos e que pouquíssimos espectadores têm a paciência de assistir: está dedicado a Arnold. Nome do pai de Steven. Os Fabelmans é um filme que faz rir, sentir alguma nostalgia e, embora não faça chorar, traz emoções para a tela e a sala.

Imagens fornecidas pelas assessorias ou retiradas da internet para divulgação. Biografias usadas são do IMDB.
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 Dúvidas, sugestões, parcerias e indicações: contato.parsageeks@gmail.com

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