sábado, 29 de fevereiro de 2020

Crítica Cinema | Doce Entardecer na Toscana

(Filme ítalo-polonês, com material e ritmo incomuns
By Tomás Allen


Sinopse: A polonesa Maria Linde (Krystyna Janda), vencedora do Prêmio Nobel de literatura, mora na Toscana cercada pelo caloroso caos na vila de sua família. Mãe e avó amorosa, ela também flerta secretamente com o jovem egípcio que administra uma pousada à beira-mar nas proximidades. Após um ataque terrorista em Roma, Maria se recusa a sucumbir ao medo histérico e ao sentimento anti-imigrante que emergem rapidamente no país. Ao receber um prêmio local, faz um discurso controverso - mas ela não está preparada para a destruição pública e pessoal que suas palavras evocam. Elenco ainda conta com Kasia Smutniak, Vincent Riotta, Antonio Catania, entre outros. Produção polonesa com direção de Jacek Borcuch. Distribuição nacional da Arteplex Filmes. Estreia 12 de março de 2020. Para assistir ao trailer, clique aqui.

Doce Entardecer na Toscana (Dolce Fine Giornata)


Não é muito habitual em São Paulo assistir a um filme polonês, salvo na Mostra Internacional do Cinema e algumas outras, específicas. Nesta ocasião, mais exatamente, uma coprodução ítalo-polonesa. Quando isso acontece, o público provavelmente vai com uma perspectiva de algo diferente. Por tanto, com Doce Entardecer na Toscana dá-se a oportunidade de estar diante de uma realização com diretor-roteirista polonês (Jacek Borcuch), pessoal técnico em maioria dessa nacionalidade e atores e atrizes também italianos e, sobretudo, poloneses.  A mais experiente é Krystyna Jandia, de 67 anos de idade e 48 longa-metragens, o que se faz evidente em sua sóbria atuação como Maria Linde, a protagonista, uma escritora da Polônia, que mora na Itália e ganha o Prêmio Nobel de Literatura. (Uma nota paralela é que em 2019, mesmo ano desta produção, a escritora e roteirista polonesa Olga Tokarczuk, residente na Alemanha, ganhou efetivamente esse prêmio).


Maria Linde rejeita o prêmio em meio a fortes comoções sociais e políticas do lugar em que mora na Itália e produz mais discussões, polêmicas e resistências a sua atitude. Ela está em uma posição social e econômica bem abastada, mas também, tem um amante estrangeiro que sofre perseguições e preconceito. Jandia dá força à complexidade da personagem.  Com o prêmio também virão a fama, as implícitas pressões políticas e até questões financeiras. Sua vida íntima, suas dúvidas pessoais e existenciais se tornam prementes e mais agudas: “Não tenho certeza de nada” – disse. Embora Doce Entardecer na Toscana tenha um ritmo que agradará preferencialmente aos que procuram reflexão e conflitos pessoais e políticos, em contraste não será tão atrativo para o público que busca um tipo de ação mais habitual no cinema de massa. Aqui há rebeliões menores diante das regras e autoridades (fumar em local onde é proibido, conduzir com excesso de velocidade e eludindo controle policial). Mas também há posições políticas de fundo e citações muito interessantes, por exemplo o que diz a protagonista sobre atitudes que consagram, consolidam, aos violentos no poder: “Em alguns é tão forte o medo ao outro que isso leva até a perder a própria liberdade”.
 

Em rigor, já desde o início Doce Entardecer na Toscana, tem um estilo narrativo que parte de assuntos triviais para chegar a elementos dramáticos – do sumiço que parece ocasional de um menino até derivar em um tom dramático. Assim, com diversas outras situações, mas com esse jeito, o relato avança até chegar a uma cena final, precisa e ao mesmo tempo aberta e ambigua. Magnífica desde o ponto de vista da linguagem cinematográfica porque o deslocamento em modo de traveling onde a câmera se vai distanciando do objeto central, é isso: puro cinema, para o espectador curtir e – eventualmente – discutir, com outro ou consigo mesmo. Desta maneira, estamos diante de um produto incomum, com estilo e ritmo bastante especiais, e um final muito bem construído. Talvez Jacek Borcuch possa caminhar daqui em diante na direção dos bons diretores poloneses, figuras do cinema mundial, entre os quais merecem ser citados Andrzej Żuławski – com as impactantes A Terça Parte da Noite (1971) e Uma Mulher Posuída (1981)-, Jerzy Kawalerowicz – com sua extraordinária Faraó (1966)- , Krzysztof Kieślowski, o mais recente e famoso Roman Polanski e vários outros. Doce Entardecer na Toscana é um filme ítalo-polonês, com material e ritmo incomuns e um final que é cinema absoluto.

Obs.: Biografias de atores e filmes IMDB. As imagens foram disponibilizadas pela assessoria da distribuidora do filme.
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 Dúvidas, sugestões, parcerias e indicações: contato.parsageeks@gmail.com

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