sábado, 12 de abril de 2025

Crítica Cinema | As Aventuras de Uma Francesa na Coréia

(Uma história reflexiva sobre uma pessoa em terras estrangeiras)


As Aventuras de uma Francesa na Coreia (‘A Traveler' s Needs’) apresenta uma parte da vida de Iris (Isabelle Huppert) que, como diz o título, é uma mulher francesa em um país distante: Coreia do Sul. Na primeira cena a vemos em uma biblioteca falando inglês com outra mulher. O diálogo é devagar, com um ritmo tipicamente oriental. Aos poucos se informa que se trata de uma aula particular de francês. 

O método de ensino é bem especial: parece uma sessão de terapia psicológica, pois a professora vai fazendo perguntas bem pessoais, de forma específica sobre os sentimentos da aluna que, em forma espontânea, se tinha decidido a tocar um instrumento musical nesse encontro. As respostas e seus complementos didáticos são registrados em francês em um bloquinho que é passado para que a aluna os repita em outros momentos. Dessa maneira poderá assimilar como transmitir suas sensações no novo idioma.  O que mais chama a atenção virá na sequência seguinte, na qual Iris irá à casa de um casal onde, depois de longos diálogos, a esposa também tocará outro instrumento. E, com esta base, haverá uma nova série de perguntas e respostas que resultam idênticas às da primeira situação.  Com o dinheiro ganho em ambas as oportunidades, Iris vai à residência de Hae-soon (Kwon Hae-hyo), um jovem coreano solteiro e que até conhecê-la morava sozinho. Esse vínculo (amizade ou incipiente relação íntima ?) e toda a vida dele são questionados quando irrompe sua mãe, Wonju (Lee Hye-yeong). Esta mulher pergunta em modo incisivo e muito detalhado sobre a situação económica e financeira do rapaz e, em especial, sobre o relacionamento com Iris, que fica caracterizada como uma estrangeira desconhecida e de passado incerto.

No decurso, há reflexões breves, porém interessantes: “Viver é procurar motivos”; “Amar é viver com dignidade”; “Sou uma pessoa sincera?”; “Gostaria de exibir minhas habilidades (…) mas não estou satisfeita de mim mesma (...) gostaria de ser outra pessoa”.

Tudo vai conduzir a um final que oscila entre uma aparente certeza e uma ambiguidade que pode interessar como uma espécie de enigma. No total, se destacam vários elementos: a originalidade do método para ensinar o idioma francês, a indagação psicológica que se produz, a coincidência de sentimentos de diferentes pessoas perante uma mesma situação, o questionamento - legítimo ? - de vínculos diante de desconhecidos, a condição dos estrangeiros - neste caso, mulher branca ocidental, sozinha e em um país oriental.

A atuação protagônica de Isabelle Huppert (130 trabalhos, 21 prêmios internacionais) é sóbria e apropriada. Dos atores e atrizes coreanos sobressai a experiente Lee Hye-yeong, em seu 28º longa-metragem. Todos sob a direção de Hong Sang-soo (31 títulos), responsável também pelo roteiro. E dos outros aspectos técnico-artísticos - fotografia, edição, composição. Tudo isso ajuda a entender por qual motivo As venturas de uma Francesa na Coreia pode ser definido como uma realização minimalista e intimista, que interessará a um público que gosta de refletir e acolher o ritmo pausado da trama.


Não é a primeira vez que o cinema explora a relação francesa com oriente. Por exemplo, “Indochina” (1992), uma realização totalmente francesa em produção, direção, atores, atrizes (com Catherine Deneuve e apenas a excepção de uma jovem atriz vietnamita), e pessoal técnico, levou o ‘Oscar’ como melhor filme de idioma não-inglês e teve sucesso de público e crítica.

O caso de As aventuras (...) é outro, pois quase tudo é coreano, com excepção da protagonista, e traz uma perspectiva diferente. , mas direcionado a público que aceite uma obra algo devagar, com muitos diálogos alternados com alguns silêncios, e que traz variados elementos - sentimentos, emoções, reflexões - para apreciar durante e depois da exibição. As Aventuras de Uma Francesa na Coréia é sobre uma pessoa estrangeira, tentando adaptar-se e sobreviver; ritmo pausado com reflexões e situações diversas.


Sinopse oficial: 
Uma francesa que costumava tocar flauta em um parque supera suas dificuldades financeiras ensinando francês a duas mulheres na Coreia do Sul. Ela encontra conforto deitando em pedras e recorre ao makgeolli — vinho de arroz típico da Coreia — para se sentir bem. Direção: Hong Sang-soo. Estreia nos cinemas brasileiros, 10 de abril de 2025 pela Pandora Filmes.

Imagens fornecidas pelas assessorias ou retiradas da internet para divulgação/Biografias usadas são da IMDB.
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