sexta-feira, 21 de junho de 2024

Crítica Cinema | Clube dos Vândalos

(Filme intenso, interessante, com heróis e anti-heróis motociclistas)


Filme intenso, que apresenta a entrevista feita por um jornalista a Kathy (Jodie Corner), vinculada a um clube de motociclistas dos Estados Unidos. Ela vai narrar boa parte do percurso histórico desse grupo, chamado “Vândalos (de) Chicago”, a partir do ano 1965 até 1973. O espectador vai assistir esse diálogo fictício, o que caracteriza um plano narrativo que está por trás de outro. Portanto, em parte das quase duas horas de Clube dos Vândalos (“The Bikeriders”), não estamos em presença direta do que acontece (em tal caso essa mulher narraria para a câmera cinematográfica deste filme) e, sim, indiretamente, presenciando a conversa dela com um terceiro. De todas maneiras, esse é o fio condutor e as imagens vão suceder-se em modo fluido.

Desde a primeira cena, já temos elementos básicos da realização: violência para decidir quem manda em um determinado lugar ou situação; quem se impõe a outro; até onde se tem personalidade e resistência física perante às agressões - em geral, mútuas. Jeff Nichols, diretor e roteirista, baseado em um livro prévio, por sua vez retratando “fatos reais”, não poupa som forte para acompanhar as imagens, também não escatima em mostrar lesões, sangue e sofrimento.

Para o espectador que gosta de motos barulhentas, aparentemente antigas e de altas cilindradas (marca Harley-Davidson ou similares), grupos de motociclistas que vivem desafiando-se, lutando pelo poder, o autocontrole etc., este será um prato forte. Por momentos, até divertido. É que também há um exagero, que apresenta oscilação entre situações de violência realmente séria e outros momentos que somente aparentam sê-lo, pois não são claramente explicados (e sim resolvidos de forma implícita).

Benny (Austin Butler) é um deles e sua presença física resulta atrativa de imediato para Kathy, embora não faltem muitos outros homens que, eventualmente, poderiam ser concorrentes. Porém, ele tem muitos defeitos e problemas, em especial para respeitar regras. E não deixa de ser um briguento de modo quase constante. É que responde às características que lhe são pedidas para integrar o grupo dos “Vândalos”: gostar de batidas, caras esquisitos, cigarros e, sobretudo, de motos. Estas devem ser potentes, bem cuidadas, caras, muitas vezes com requintes de detalhes.

Além do já dito sobre a violência, esta aparece até no próprio nome (vândalos), e, inclusive, está em roupas e símbolos próprios dessa ‘cultura biker’ (cultura dos motociclistas). Por exemplo, a jaqueta típica com a cruz ‘chopper’, variante da Cruz de Malta - mistura dessa cruz com a de Ferro e a suástica, adotada depois pelo nazismo - e que é ambígua, porque pode representar adesão ao nazismo ou ser um troféu de guerra arrancado aos rivais mortos; a caveira, como elemento de identidade ao grupo e de distinção, unida aos mencionados requintes que se podem dar às motos; as letras góticas que podem significar elegância, afeto e também rebeldia e hermetismo.


Aparecem aspectos psicológicos dessas pessoas: a necessidade de não ficar sozinho e isolado e, para isso, fazer parte de um grupo (característica própria dos adolescentes) e a de poder desabafar entre eles. Além, claro está, de ter vínculos em comum, principalmente com as motos. Também está a presença constante do desafio; o ser reconhecido e respeitado pelos outros e a própria personalidade forte e inteligência aguda para, assim, ser líder. Por isso, o chefão Johnny (Tom Hardy), em algum momento, diz que para fazer parte dessa turma e poder mandar “tem que ser brigão, não ‘bunda mole’; que os outros lhe respeitem e não aceitar imposições dos demais”. Johnny, diante de uma proposta que, no fundo, ele considera boa, rejeita-a, “para que ninguém tenha tido uma ideia melhor que eu”.

Por sua vez, na mesma disposição de ânimo, Benny diz: “Nunca peço nada a ninguém; nunca preciso nada de ninguém”. E a namorada lhe diz: “Você é o que os outros procuram ser.” E reflete sobre sua relação com o grupo: “Quando uma pessoa se relaciona e convive com outros, acaba pensando e atuando como eles”. Sobre a esperança de conseguir modificar esse homem, sabe que não é possível e, então, deve “contentar-se com minguar esses traços ruins que o caracterizam.”

Continuando com o grupo, a maneira de solucionar conflitos, em geral, é violenta (com a variante de lutas usando os punhos ou facas). E nem aparece a possibilidade de votar nas opções e decidir por maioria. Assim, a obra não carece de reflexões diretas e indiretas sobre as pessoas e a vida. Resumindo, são valorizadas a fidelidade ao grupo, aos amigos, a algumas regras. E o estreito vínculo com a moto. Também, em especial nas sequências finais, aparecem momentos com emoção e romance.

Sobre a trama, resulta bem elaborada e, diga-se, a penúltima sequência é uma das mais interessantes, levando à indignação do espectador, porque há uma traição covarde. Porém, depois, pode-se reconhecer uma lógica implacável em tanta maldade.

Outros fatores que não passam despercebidos são o uso da música (David Wingo, principal responsável), com mais de 30 temas, e o som (com um departamento constituído por 13 profissionais), sempre necessário para sublinhar os fatos, em especial os violentos. Além disso, há uma longa lista de dublês (37 integrantes).

É inevitável perceber e citar antecedentes desta realização, em particular “Sem destino” - filme ícone de 1955 sobre um motociclista interpretado por James Dean, ao igual que lembrar outros grandes títulos e atores cinematográficos (“West Side Story”, de 1961, musical clássico, e Marlon Brando em “The Wild One”, de 1953, ambos com brigas entre gangues). Clube dos Vândalos, como dissemos, é dinâmico e interessante. Em geral, um retrato apurado de um grupo de motociclistas com suas virtudes e defeitos, protagonizado por heróis que, simultaneamente, são anti-heróis.


Sinopse:
Clube dos Vândalos acompanha a jornada de um clube de motoqueiros do centro-oeste americano, os Vândalos. Através da vida de seus membros, o filme narra, ao longo de uma década, a transformação do clube, de ponto de encontro de motoqueiros à margem da comunidade local, no início, à gangue sinistra que ameaça e coloca em risco até o modo de vida autêntico e único do grupo original. Direção: Jeff Nichols. Estreia nos cinemas brasileiros em 20 de junho pela Universal Pictures do Brasil.

Imagens para divulgação fornecidas por assessorias ou retiradas da internet 
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 Dúvidas, sugestões, parcerias e indicações: contato.parsageeks@gmail.com

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