ParsaGeeks - Desbravando Filmes e Séries: Crítica Cinema

(Não cumpre bem o seu papel)

By Jeff Rocha

Após fugir da guerra na Polônia e chegar ao Brasil, Rebeca busca por seu marido para tentar reconstruir sua vida com a família no Rio de Janeiro. Contudo, ela descobre que ele faleceu. Sem ter como voltar à Polônia, Rebeca recebe uma proposta de trabalho em uma casa de prostituição e tráfico de mulheres, muitas delas também vindas da Polônia. As Polacas é dirigido por João Jardim e produzido por Iafa Britz, o filme conta histórias reais de mulheres, em sua maioria polonesas, que eram enganadas com promessas de uma vida melhor em outros países, incluindo o Brasil. Ao serem afastadas de suas famílias, eram forçadas a trabalhar em prostíbulos. A trama é inspirada nas obras El Infierno Prometido, de Elsa Drucaroff, e La Polaca, de Myrtha Schalom.

O roteiro tinha potencial para ser impactante, mas falha ao não explorar adequadamente as informações cruciais que são apenas mencionadas nos créditos do filme. A narrativa é superficial, lembrando novelas das 18h da Globo, com o foco desviado da proposta inicial apresentada no trailer. A promessa de mostrar a luta das mulheres polonesas é deixada de lado em favor de uma história centrada nos personagens de Valentina Herszage (Ainda Estou Aqui e HEBE) e Caco Ciocler (Passagrana). Com um enredo fraco e extenso, o filme se perde ao não aprofundar o tráfico de mulheres, a luta delas ou sua união, elementos que são abandonados e que poderiam enriquecer a trama.

Mesmo tratando com grande foco de abuso psicológico e sexual, o filme se desencontra da sua história real, deixando de ser interessante ao não mostrar o sofrimento e a violência de varias formas que essas mulheres sofreram.

O filme força ao mostrar que Valentina Herszage é cantora, algo bem desconexo com o enredo. Quando ela realmente vai usar isso em uma cena, apresenta de forma desperdiçada e rápida.

A produção do filme esta impecável e realmente remete a novelas de época da Globo. O figurino e locações são realistas, apesar de todo filme quase acontecer dentro da casa de prostituição. Entretanto, o uso repetitivo de imagens em preto e branco do Rio de Janeiro para situar a época (1917) é desnecessário, já que essa informação é apresentada logo no início do filme. Os planos fechados, utilizados para transmitir desconforto, especialmente nas cenas que ressaltam a submissão das mulheres, são eficazes, mas falta profundidade no enredo.

As atuações de Valentina Herszage e Caco Ciocler estão perfeitas. Ciocler, em especial, é o mocinho das novelas das 9h que conseguiu ser odiado nessa produção. Algumas outras atuações pareciam robóticas e outras poderiam ter mais espaço na tela.

Faltou ação e drama ao filme. A proposta inicial era mostrar a luta das mulheres que eram obrigadas a vender os corpos para sobreviver e que quando morriam não podia nem serem enterradas seguindo os padrões de sua religião. As Polacas não cumpre seu propósito. Talvez funcionasse melhor como uma série ou novela, permitindo explorar os diversos arcos que foram explorados, mesmo com a longa duração do filme.

Sinopse oficial:

1917. Fugindo da perseguição aos judeus e dos horrores da guerra e da fome na Europa, a polonesa Rebeca (Valentina Herszage) chega ao Brasil para reencontrar o marido e iniciar uma nova vida. Porém, ao contrário das promessas de felicidade, a realidade que encontra no Rio de Janeiro é completamente diferente. Ela descobre que seu marido faleceu e acaba refém de uma grande rede de prostituição e tráfico de mulheres, chefiada por Tzvi (Caco Ciocler). Mesmo tendo que transgredir com suas próprias crenças, Rebeca encontra aliadas que vivem o mesmo drama que ela e, juntas, lutarão por liberdade. Direção: João Jardim. Estreia nos cinemas brasileiros, 12 de dezembro de 2024 pela Imagem Filmes.