sábado, 24 de fevereiro de 2024

Crítica Cinema | Dias Perfeitos

(A vida simples e magnífica de uma pessoa comum)


Komorebi é uma palavra japonesa que tem a ver com luzes e sombras. É a luz solar filtrada pela folhagem. Esta imagem e seu conceito implícito serão utilizados em Dias Perfeitos pelo prestigiado diretor alemão Wim Wenders, que tem uma filmografia de 37 longa-metragens, vários deles excelentes, dos quais mencionamos o drama Paris, Texas (1984) e o musical Buena Vista Social Club (1999). Agora, neste novo título, a cuidadosa iluminação de Franz Lustig mostrará em modo alternado, por meio da boa edição de Toni Froschhammer, tomadas alusivas a esse efeito de luzes tênues, que a natureza oferece, ainda em uma cidade populosa como é Tókio.

Lá mora Hirayama (representado por Koji Yakusho), homem que trabalha na limpeza de banheiros públicos. Embora não seja uma tarefa elegante e pode resultar até desagradável, este personagem não só cumpre com a mesma, senão que mostra uma atitude louvável: encontra em cada objeto, situação, pessoa, um lado positivo. Encara a vida, em geral, de forma sorridente, procurando satisfazer-se animicamente com tudo. Embora more em uma urbe assim (a maior do mundo), ele parece ter uma serena alegria que lhe permite encontrar elementos harmônicos, até no cimento.


Seu acordar bem cedo, sua ordem metódica, seu gosto pela música nostálgica, livros, flores e árvores; sua cotidianidade afável, seu respeito pelos outros, suas atitudes com crianças, jovens, pessoas diferentes, porém cada uma em especial; com suas alegrias e tristezas, coincidências e desencontros, sabedoria e desconhecimento, seu silêncio cauto e escrutador - bem japonês - e suas palavras atinadas… tudo em Hirayama resulta uma espécie de canto à vida.

Porém, aos poucos vamos conhecendo mais deste homem que mora sozinho mas que tinha e tem outras dimensões e vínculos pessoais. A sucessão de situações e pessoas vão dando renovadas perspectivas ao personagem, ao filme e a nossa própria atitude diante das imagens e - por quê não - do que pensamos e sentimos diante do fato de viver.


Assim, por fim, aparece um dia especial: “Você me deixa esperando um dia perfeito”; “Tudo o que tenho é esta tarde ensolarada” - diz o protagonista. Uma moça o acha parecido a outra pessoa, e ele utiliza as mesmas palavras que já foram utilizadas anteriormente por outros e em outras ocasiões, porém, com ele - segundo a mulher - essas palavras parecem ter algo a mais.

A cena final traz características surpreendentes ao ponto de merecer uma atenção muito especial. Com excepcional atuação de Koji Yakusho (em seu 80º longa-metragem e, neste caso, nomeado para o “Oscar” de ator principal), pode ser vista como uma virada ou como um reforço de tudo o que as quase duas horas anteriores haviam oferecido. Se unida àquilo dito aqui e ao mostrado nas imagens sobre Komorebi, provavelmente dará uma perspectiva muito interessante sobre o que acontecia com esse homem e, fundamental e aprofundadamente, com o que é a vida. Ou uma interpretação dela. Dias Perfeitos são luzes e sombras na vida de um japonês magnificamente representado por Koji Yakusho.


Sinopse:
Hirayama é um homem de meia-idade contemplativo, que vive uma vida modesta e serena, passando os dias equilibrando seu trabalho de zelador obediente dos numerosos banheiros públicos de Tóquio com sua paixão pela música, literatura e fotografia. À medida que nos juntamos a ele na sua rotina diária metódica, uma série de encontros inesperados começam gradualmente a revelar um passado oculto em sua vida feliz e harmoniosa. Direção: Wim Wenders. Estreia nos cinemas brasileiros em 29 de fevereiro pela O2 Play e Mubi Brasil.

Imagens para divulgação fornecidas por assessorias ou retiradas da internet 
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