quinta-feira, 13 de abril de 2023

Crítica Cinema | O Pastor e o Guerrilheiro

(Voltado para a reflexão) 


Na década de 1970, um guerrilheiro comunista se encontra na mesma cela que um cristão evangélico, preso por engano. Em meio a torturas e conflitos ideológicos, eles se ajudam e marcam um encontro para o réveillon do ano 2000. Nos últimos dias do milênio, Juliana, ativista estudantil e filha ilegítima de um coronel que acabara de se suicidar, é surpreendida com uma herança deixada para ela. Por meio de um livro encontrado na casa do coronel, ela descobrirá que seu pai foi o torturador dos dois presos e que o encontro marcado não acontecerá como previsto. Elenco conta com Johnny Massaro, Julia Dalavia, César Mello, Cássia Kis, Sérgio Mamberti, Túlio Starling, Ana Hartmann, William Costa, Antônio Grassi, Buda Lira, Gabriela Correa, Ricardo Gelli, entre outros. Direção de José Eduardo Belmonte. Distribuição da A2 Filmes. Estreia nos cinemas em 13 de abril de 2023. Para o trailer, clique aqui

O Pastor e o Guerrilheiro


A Guerrilha do Araguaia foi um fato que aconteceu por volta de 1973 na Floresta Amazônica brasileira. Um grupo de homens e mulheres principalmente vinculados à vida universitária decidiu emigrar para lá e enfrentar a ditadura militar que governava o país naquela época. O resultado foi totalmente desfavorável a eles, que pagaram com enormes sofrimentos e morte sua insurgência. Este filme se ocupa em particular de dois desses guerrilheiros, Miguel Souza, codinome João (Johnny Massaro) e Juliana, paradoxalmente filha de um militar (Julia Dalavia). O relato se inicia em agosto de 1968 e se centra em 1973 e dezembro de 1998. Dirigido por José Eduardo Belmonte (também co-roteirista) parece ter como propósito não apenas fazer um resumo daqueles acontecimentos mas, simultaneamente, ser uma crítica às torturas e assassinatos produzidos contra os rebeldes.


Embora tais ações sejam detestáveis e sua crítica possa ser considerada um objetivo nobre, O pastor e o guerrilheiro resulta bastante caótico. Seja por uma edição deficiente, onde não há linhas narrativas bem conectadas, seja porque a direção geral mistura tempos sem muita coerência, o filme deambula de um fato a outro. Também a marcação dos atores não parece muito convincente, pese a serem profissionais com antecedentes em vários longa-metragens prévias, incluídas César Mello, como o pastor. Personagem que aparece ao longo do relato para mostrar contrastes e, simultaneamente, empatia e amizade. O vínculo entre o guerrilheiro e o pastor poderia ser um ponto atrativo para o espectador. Porque foram pessoas que procuravam um mundo melhor, mais justo, por caminhos e com convicções totalmente diferentes e que a vida, a casualidade ou como queira ser chamada, os encontrou e reencontrou. Porém, os dramatismos e até o contraponto ideológico não vingam com a intensidade que demandam e que poderiam ser atingidos.


Um parágrafo à parte para os posicionamentos, reflexões ou arengas: tanto da estudante que insta a seus colegas à luta quanto os sermões do pastor compartilhados com a congregação não estão bem interpretados e carecem de substância argumentativa. Só a identificação emocional e as convicções prévias levam a coincidir com tais demandas que, eventualmente, podem estar certas, mas são apenas declamações entrecortadas. Há margem para os conflitos e dramas pessoais, principalmente, da jovem líder estudantil e do mencionado pastor. Porém, em modo similar aos aspectos antes mencionados, estes também não conseguem voar alto. Nos últimos minutos de O pastor e o guerrilheiro há um elemento que sim chama a atenção por si mesmo: a enorme quantidade de documentos que se ocuparam dos fatos nele relatados. Uma parte deles devem ter sido aproveitadas pelos roteiristas desta realização. Podemos lembrar, também, que muito se tem explorado no cinema brasileiro o tema da luta armada e as ditaduras. Exemplos: “Memórias do medo” (1981), “O que é Isso, Companheiro?” (1997), “Zuzu Angel” (2006), “Cara ou coroa” (2012), “Marighella” (2019). Resumindo, o filme pode, provavelmente, como aquelas falas referidas, ser bem recebido por um público já predisposto em modo favorável. Mas não por uma audiência de massa. O Pastor e o Guerrilheiro é um filme destinado a público previamente identificado com a rejeição de atos repressivos oficiais que, realmente, são ilegais e deploráveis.

Imagens fornecidas pelas assessorias ou retiradas da internet para divulgação. Biografias usadas são do IMDB.
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 Dúvidas, sugestões, parcerias e indicações: contato.parsageeks@gmail.com

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