ParsaGeeks - Desbravando Filmes e Séries: Crítica Cinema

(A única regra é que vale tudo para passar a mensagem)

By Luiz Jr.

Simone (Sol Miranda) é uma jovem defensora pública que defende mulheres em casos de abuso. No entanto, seus próprios interesses sexuais a levam a um mundo de violência e erotismo. Elenco ainda conta com Lucas Andrade, Lorena Comparato, Isabela Mariotto, Babu Santana, MC Carol, entre outros. Direção de Julia Murat. Produção das brasileiras Esquina Filmes e Bubbles Project, além da francesa Still Moving, com distribuição da Imovision. Estreia nos cinemas brasileiros em 19 de janeiro de 2023. Para trailer, clique aqui.

Regra 34

Júlia Murat (Pendular e Cidade Passáro) traz um longa que poderá de forma tranquila estar entre um dos melhores brasileiros do ano, de forma pesada, intrigante, onde ela não tem vergonha de mostrar o que precisa, em momentos que pareçam até desnecessários, mas que no final você sai esquecendo aquilo pois ao desfecho tudo parece ser auto justificado graças aos fragmentos que a cineasta vai deixando ao decorrer do filme. Antes de começarmos a analisar a história e seu enredo peculiar, porém com assuntos necessários para o mundo de hoje, vamos falar um pouco do elenco e sua grande química onde um complementa o outro em tudo e, onde com certeza com cenas básicas, traz e fala muito sobre a diferença de amizades em termos de raça.

Sol Miranda (Simone), é de tal sutilidade e energia que não se esconde em momento algum, mesmo quando sua personagem não é o foco central da cena, ela tem sempre consigo uma fala, um olhar, algo que vai fazer ela ficar ali no topo novamente; muitas vezes por conta de sua cabeça dura em não entender para onde aquele caminho a leva, ao mesmo tempo, por conta do conflito interno onipresente no filme em ela ser uma estudante de direito e Cam Girl, e no seu modo de pensar nas duas vidas não só ser diferente mas o como ela vê que o mundo reagi de forma radical para cada uma de suas vidas. É como se ela estivesse se condenando o tempo todo aquele final, suas companhias de cena Lorena Comparato (Lúcia), Lucas Andrade (Coyote) e Isabela Mariotto (Nat) estivessem ali como um fantasma de Natal, mostram para ela o que podem ser as consequências, dão conselhos, mais de nada adianta, Simone tem conflitos demais e isso não deixa nunca ela ter uma ideia transparente que faça bem para ela e que faça ela seguir com seu sonho de ajudar outras pessoas sem sua ´´outra vida`` virar empecilho.

Sua relação com Lúcia chega a ser tóxica em certos momentos, com críticas sociais muito profundas, ainda mais quando Lúcia, Simone e Coyote estão no mesmo ambiente, e isso é construído de uma forma gostosa de assistir no quesito tão real que fica, nos fazendo pensar em muitas relações reais que vemos por aí. O roteiro do filme é pesado, e não pra dizer que do segundo para o terceiro ato não perde um pouco do folego, porém de forma alguma estraga a experiência, ao contrário, são tantas informações jogadas aos nossos olhos e mente que isso se faz necessário para terminamos de mastigar o filme, até que ele traga sua sobremesa. Ao final daquilo que vemos, temos uma sequencia de três cenas bem cortadas de uma para outra e que mostra bem os conflitos de Simone, e até nossos no dia a dia, porém levando nossa protagonista a um fim que apesar de aberto, pode ser considerado mortal para ela; Sol arranca de si um último suspiro, suas energias acumuladas durante todo o filme para ´´coringar`` em sua cena final e mostrar que sua personagem em nenhum momento do filme capitou a mensagem, mas conseguiu transmitir bem ela para nós. Regra 34 traz muitas lições pesadas e se mostra disposto a tudo para fazer entrar na sua mente essas mensagens, como se Julia ao final dissesse “eaí, está sentindo na pele já?” de tanto que ela nos faz em boa parte do tempo nos sentir no lugar de Simone, querendo que ela pare com certas atitudes naquele instante, pois estamos vendo aonde aquilo irá levar, e isso torna a obra de Julia já candidata a um dos melhores brasileiros do ano.