quinta-feira, 25 de julho de 2019

Crítica Cinema | O Mistério de Henri Pick

(Muito bem feito, com um enredo policial inusual)


Sinopse: Em uma biblioteca bretã bizarra, que guarda manuscritos nunca publicados, uma jovem editora descobre um romance que ela considera uma obra-prima. O texto foi escrito por um certo Henri Pick, um mero cozinheiro que morreu há dois anos e que, de acordo com sua viúva, nunca havia lido um livro em sua vida ou escrito nada além de uma lista de compras. Teria ele uma vida secreta? Quando o livro se torna um grande best-seller, Jean-Michel Rouche (Fabrice Luchini) , um crítico literário cético e teimoso, junta-se a Joséphine (Camille Cottin), a filha de Pick, para desvendar esse mistério. Elenco ainda conta com Alice Isaaz, Bastien Bouillon. Direção de Rémi Bezançon, com distribuição nacional da A2 Filmes.

O Mistério de Henri Pick (Le Mystère Henri Pick)


Rémi Bezançon é um roteirista e diretor de cinema francês sem muitos antecedentes. Nesta última condição tinha apenas cinco longa-metragens antes deste. Porém, isso não significa inexperiência diante deste último trabalho pois é uma obra realizada com muita competência. Oferece um filme que dá prazer cinematográfico ao assisti-lo. Trata-se de um policial com muitos momentos próprios de uma comédia inteligente. A história remete a um romance assinado por Henri Pick, um pizzaiolo absolutamente desconhecido no mundo da literatura e que tem grandes méritos literários. Jean-Michel Rouche (Fabrice Luchini), apresentador televisivo e crítico com vastos conhecimentos, tem a tarefa de conduzir um programa ao vivo sobre lançamento de livros, com convidados próximos aos autores. Neste caso, Pick – já falecido -. Quando faz essa apresentação, Rouche em forma totalmente inesperada e para surpresa de todos, argumenta que Pick muito improvavelmente poderia ser o verdadeiro autor.


Inicia-se desta forma uma pesquisa literário-policial de prolongadas e muito bem levadas situações. O Mistério de Henri Pick é um filme aparentemente despretensioso, mas que traz originalidade, dinamismo e, também, faz refletir sobre nossas convicções e preferências como humanos. A primeira originalidade é fazer referência à existência de uma biblioteca que tem livros que foram... rejeitados pelos editores. Ou seja, obras supostamente menores, classificadas como carentes de atrativos ou valores que os fizessem ser lidos pelo público. Porém, o livro assinado por Henri Pick, é descoberto aí, resgatado, publicado, e passa a ter justo sucesso dados seus valores. A segunda originalidade de O Mistério de Henri Pick é que aparentemente exista um provável autor fantasma (“Ghost Writer”) já falecido. A prática de um autor efetivo substituir outro, pelo geral mais famoso, é habitual. O que é novidade é que esse caso, além de não ser mais que uma suposição de Rouche, encobriria um escritor já morto. O que faz mais difícil e interessante o esclarecimento da situação. O espectador poderá acompanhar essa pesquisa com crescente interesse.


Além do anterior, há uma espécie de metalinguagem no filme. O que acontece no “caso real” relatado, também se reflete no próprio filme. E não deixa de ser reflexivo, sobre a separação matrimonial, a morte e, em especial, sobre a verdade confrontada com as ilusões. Em geral, segundo o filme, fugimos da verdade porque resulta ser inquietante, incômoda e até cruel. Já as segundas ainda que sejam enganosas resultam tranquilizantes porque representam nossas aspirações, desejos, anelos. Suprimimos a primeira e escolhemos fugir, às vezes drasticamente, como faz a viúva de Pick ou os diretores da programação da televisão. O filme sublinha que muitas vezes fazemos prevalecer o que queremos que seja mas não o que efetivamente é. Há também, agudas observações: “Sempre nos vemos nos livros”. (Isso porque nos projetamos). “A dor dos outros é fácil de carregar”. Ou no diálogo entre Rouche e a filha de Pick: - Isso não tem lógica nenhuma – Mas é humano.


Com relação aos trabalhos dos atores devemos apontar que foram realizados de maneira muito apropriada, com destaque para: Fabrice Lucini (excelente papel protagonista), Camille Cottin, como filha de Pick e ajudante de Rouche na pesquisa que comprometeria em parte a memória de seu próprio pai; Alice Isaaz, jovem atriz de interessante beleza, como a descobridora do texto de polêmica autoria e uma breve aparição da saudosa Hanna Schygulla (de excelentes atuações em O Casamento de Maria Braun – de 1978 – e Lili Marlene – de 1981 -, dentre outras). O mesmo nível tem os trabalhos técnicos principalmente a música original de Laurent Perez del Mar e a muito elaborada fotografia de Antoine Monod, com boas cores e cuidadosa composição. De algum modo, neste texto já ficou evidente um muito bem construído roteiro, de Rémi Bezançon e Vanessa Portal. No final, há um toque romântico, leve, discreto, sugerido, inteligente, como é o filme inteiro. O Mistério de Henri Pick é um filme muito bem feito, com um enredo policial inusual (não há um criminoso) mas fácil de ser acompanhado e entendido. Há, também, toques de fino humor. Para curtir.

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