(Um relato envolvente, unindo diversos momentos e estados anímicos)
By Tomás Allen
A espetacular fuga de um diretor da Aliança Francesa da Sibéria, Mathieu Roussel (Gilles Lelouche). Vítima de uma trama orquestrada pelo FSB (Serviço Federal de Segurança da Rússia), esse intelectual terá que se transformar em homem de ação para escapar de seu destino. Produção francesa que teve destaque no Festival Varilux 2022. Elenco ainda conta com Michael Gor, Joanna Kulig, Louis-Do de Lencquesaing, Sasha Piltsin, Mikhail Safronov, entre outros. Direção de Jérôme Salle. Distribuição nacional da Mares Filmes e Polifilmes. Estreia nos cinemas brasileiros em 29 de setembro de 2022. Para o trailer, clique aqui.
Este seria o caso de Mathieu Roussel (Gilles Lellouche), diretor da Aliança Francesa em Irkutsk, uma pequena cidade da Sibéria. Depois de uma apresentação teatral bastante audaz, organizada por ele, e uma série de encontros pessoais, principalmente dançando com a sedutora Svetlana Rostova (Joanna Kulig, ascendente atriz polonesa), ele é detido intempestiva e violentamente por forças de segurança. É acusado, de forma injusta, de delitos privados graves. Os reais motivos da perseguição resultam desconhecidos e o espectador pode apenas ter uma suspeita dessa causa. Na prisão, ele apanha das mais diversas e cruéis maneiras. Porém, também recebe ajuda, aparentemente, de Rostova. Essa mulher que dançou com ele está casada e quiçá seja a causa das falsas acusações incluídas no Kompromat de Roussel. Essa ajuda que vai recebendo dentro do presídio e, depois, na sua transitória liberdade, é uma das colunas vertebrais do relato. Também o papel da diplomacia francesa que, neste caso, dá lugar a diversas cenas e sequências que resultam ser entre cautelosas e tensas. De outros eixos narrativos resultam os vínculos familiares de Roussel, por um lado, e as relações próximas à FSB que Rostova tem, por outro. Além disso, aparecem diversos personagens – um advogado distante, porém não totalmente alheio ao acusado, um motorista que se oferece para dar carona e que se autodefine como filósofo, policiais secretos extremamente cruéis etc. Inimigos de todo tipo (presos, indivíduos comuns que prejulgam e colaboram com a polícia) também vão perseguindo e torturando o protagonista. Depois de muitas peripécias, o final chega. Todavia, a última cena, com uma breve duração (pouco menos de dois minutos e, dentro deles, apenas alguns segundos centrais) é exímia. O espectador ficará pensando sobre o acontecido e o que provavelmente virá.
O diretor, Jérôme Salle, e o editor, Stan Collet, realizaram um trabalho preciso e perfeitamente organizado. Desde a primeira cena, que se fecha e não reaparece até muito depois, ainda que persista como um pano de fundo na mente do espectador, tudo está elaborado com base na montagem. Tudo, ou quase tudo, vai-se expondo por meio da montagem: situações, vínculos, sentimentos – alguns sobrepostos e ou contraditórios. Este último caso acontece com Roussel e, principalmente, com Rostova. Fotografia (Matias Boucard) e música muito adequada (Guillaume Roussel – sobrenome que curiosamente coincide com o do protagonista – ) completam os principais itens da produção, que se deslocou desde as remotas localidades da Rússia asiática, vizinhas da Mongólia, até a já europeia República de Lituânia (embora no filme seja identificada como Estônia, incluindo bandeira e escudo), próxima da Finlândia. Kompromat - O Dossiê Russo, em seu conjunto, com relato envolvente, unindo diversos momentos e estados anímicos, embora complexo em sua trama, resulta fluído, claro e atraente.
Kompromat - O Dossiê Russo (Kompromat)
Kompromat pode enganar... de modo positivo. Porque esse título pode parecer confuso. Porém, em uma aproximação de idiomas seria: ‘material comprometedor’, o que já esclarece um pouco ao espectador. Outra ideia enganosa, de quem tem alguma informação prévia, é que o filme será total e exclusivamente destinado a criticar ou ridiculizar o serviço secreto russo, mas isso não é confirmado ao longo das duas horas de duração. Pelo contrário, pode ser entendido – e/ou desfrutado – como um drama, com sentimentos, paixões, lógica e, também, vacilos e irracionalidade no plano individual. Claro que está presente essa crítica à arbitrariedade, crueldade e até à selvageria da FSB (Serviço Federal de Segurança da Rússia), a atual KGB russa (já não mais soviética). No entanto, a perspectiva psicológica, emocional, tem uma força muito grande dentro do relato. Há algumas advertências iniciais na exibição: - “Este filme e seus personagens são livremente baseados em fatos reais”. O que pode ser até contraditório (é reflexo aproximado de um caso acontecido ou é uma ficção que apenas tomou um fato como justificativa?). – E, também, por meio de legendas, explica-se que os Kompromat “são documentos feitos para destruir reputações. A palavra, assim como o processo, foi criada pelo Serviço Secreto Russo, que se utilizavam desde o governo contra uma pessoa para desprestigiá-la”.
Imagens fornecidas pelas assessorias ou retiradas da internet para divulgação. Biografias usadas são do IMDB.
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