ParsaGeeks - Desbravando Filmes e Séries: Crítica Cinema

(Narrando fatos reais com maestria)
By Tomás Allen

Sinopse: Baseado em fatos reais, a trama é sobre a história de um herói desconhecido, Franz Jägerstätter (August Diehl), que se recusou a lutar pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial. Quando o camponês austríaco se depara com a ameaça de execução por traição, é sua fé inabalável e seu amor por sua esposa Fani (Valerie Pachner) e seus filhos que mantém seu espírito vivo. Elenco ainda conta com Tobias Moretti, Bruno Ganz, Matthias Schoenaerts, entre outros. Direção de Terrence Malick. Distribuição nacional da disney/Buena Vista. Estreia 27 de fevereiro de 2020. Para assistir ao trailer, clique aqui.

Uma Vida Oculta (A Hidden Life)

Terrence Malick é um dos diretores atuais com condições para fazer filmes típicos do denominado “cinema de autor”. Muito reconhecido em círculos internacionais, tem um carimbo próprio que o identifica. No caso deste título, há uma série de elementos que vamos citar para evidenciar de modo breve esse sentido autoral, ao mesmo tempo que adjetivamos a realização. Malick é um formado em filosofia nos Estados Unidos, e isso fica evidente em suas criações cinematográficas, bem definidas como dramas humanos poéticos, narrações com reflexão, natureza e vida selvagem, paisagens muito bonitas. Porém, também, com profunda angústia e pena. Uma Vida Oculta tem essa proximidade com o amor e com a beleza, também é reflexivo, com um agudo senso ético e, finalmente, é triste. Com uma tristeza nobre, digna, talvez inevitável, porém, elogiável. Produz empatia com o protagonista e sua nobre atitude.É a história de Franz Jägerstätter (August Diehl), um austríaco que se deu conta que o nazismo era uma desgraça para a humanidade. E que, em decorrência disso e por respeito a seus íntimos e profundos valores éticos, tomou a decisão de não colaborar com o exército alemão na Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945).

Na medida que esse exército invadia Áustria e passava o tempo, a probabilidade da convocatória militar a Franz, camponês jovem, aumentava. Simultaneamente, poucas pessoas tinham percebido o caráter extremamente destrutivo da ideologia nazista. A maioria estava a favor, sobretudo porque Áustria estava em um momento ruim e acreditavam que a aliança com Alemanha os salvaria. A clareza para entender o verdadeiro rumo, a persistência para não fazer parte desse erro fatal, levam Franz a uma resistência que não vai claudicar. Os enfrentamentos praticamente contra todos os demais (muitos vizinhos são cruéis, injustos, equivocados), contra os poderes (a igreja católica, com uma tática polêmica; as autoridades, idiotas ou perversos), levam a Franz a instâncias de grande sofrimento. Não obstante, o papel de Fani (Valerie Pachner), a esposa que atinge um patamar ético também irrepreensível, é importante na vida de seu excepcional marido. Há uma cena, nesse sentido, inesquecível. Aliás, são várias as situações de profundo conteúdo que Malick apresenta da melhor maneira cinematográfica: com poucas palavras.

Assumir as próprias convicções éticas até as últimas consequências para a própria pessoa e para seus seres queridos, é justo? É possível? Está certo? Perguntas que Uma Vida Oculta traz, de modo equilibrado, em um percurso de quase três horas, nas quais há deliberadas repetições (para sublinhar a determinação) e prolongados acompanhamentos da caminhada de Franz (para levar o espectador a fazer com ele a mesma jornada). Para melhor, quando se defronta com um de seus mais inteligentes carrascos, Franz lhe diz: “Não o julgo. Não sei quem está correto ou não”. Contra tudo, contra todos, até contra aspectos de nós mesmos, como espectadores e como pessoas, a história deste austríaco – baseada em um romance prévio – merece que seu nome seja lembrado. Muito mais que os dos canalhas que, estes, sim, julgaram como traidor quem, em rigor, foi um herói: Franz Jägerstätter. Uma Vida Oculta é a história de um austríaco que se recusou a fazer parte do exército nazista e até de jurar lealdade, narrada com maestria.