domingo, 21 de julho de 2019

Crítica Cinema | O Professor Substituto

(Adolescentes incomuns num ambiente escolar pouco convencional)


Sinopse: Um professor, de um respeitado colégio, se joga da janela sob os olhares assustados de seus alunos. Seis deles não demonstram sentimento algum. Pierre (Laurent Lafitte), o professor substituto de francês, rapidamente nota o comportamento estranho deste grupo de seis alunos, que são extraordinariamente inteligentes e admirados por todos os professores. Da curiosidade à obsessão, Pierre tentará descobrir o segredo destes jovens. Elenco ainda conta com Emmanuelle Bercot, Pascal Gregory, entre outros. Direção de Sébastien Marnier e distribuição nacional da Supo Mungam Films.

O Professor Substituto (L´Heure de la sortie)


O professor de francês Pierre Hoffman (Laurent Lafitte) deverá substituir o titular, que acabara de cometer suicídio em forma chocante. Ao menos, que deveria sê-lo. A turma que presencia o fato é constituída por doze alunos, adolescentes de elevado nível intelectual. São “estudantes incomuns”, segundo a definição do diretor do prestigioso colégio no qual vai-se desenvolver a trama. O professor Pierre deverá ministrar aula a esse grupo que, por um lado, presentará características próprias da adolescência, mas, por outro, terá a mencionada inteligência escolar avançada. Além disso, em boa medida, por ser um grupo de elite, resultam ser arrogantes, inquisidores que incomodam, rebeldes em grau extremo e até agressivos. Chegam a pontos perigosos, com os outros e com eles mesmos.


Há uma líder, que é representante de turma, e se chama Apolline (Luàna Bajrami, estreante em longa-metragens). Para defini-la, ajuda comparar seu nome com o original: Apolo. Na mitologia grega este deus tinha algumas características que o fizeram famoso. Forte, atrativo, bonito, era o deus das artes, da poesia, da harmonia, da perfeição. Podia agir em forma positiva, mas também negativa. E o que mais interessa neste caso: Apolo iniciava os jovens no mundo dos adultos, como também faz Apolline. Praticamente este último é o traço que mais aproxima ambos. Ela é mulher e não muito bonita nem sexy como era Apolo. Insípida e, sobretudo, inexpressiva, fria, desafiadora. Argumenta de maneira incisiva e lidera em modo férreo e cruel. Na medida que avança o filme, o enfrentamento entre o professor Pierre e a turma, em especial com Apolline, vai sendo cada vez mais tenso. Suas acusações pessoais ao professor caminham desde o ideológico ao sexual. O grupo de alunos (agora reduzido a 5 ou 6) parece que controla mais as situações que o professor e até as autoridades escolares. Paralelamente, fora da escola, há sessões desse grupo com sadismo violento. Além disso, se sucedem situações misteriosas nas quais até a natureza tem um comportamento sinistro. Bons efeitos de som e música de Zombie Zombie sublinham este clima onde quase tudo é enigmático e ameaçador: incidentes desagradáveis; ligações telefônicas que deixam no ar um silêncio inquietante; estranhos cortes da energia elétrica; a preferência do professor por Kafka, autor bastante hermético e incômodo; pesadelos; imagens de desastres ecológicos e atitudes desumanas com os animais e a natureza em geral, etc...


Curiosamente, no grupo de adolescentes não há vínculos sexuais evidentes. E a sexualidade adulta resulta bastante caótica (por exemplo um menor pode permanecer em um local para adultos), inclusive entre os professores (a procura por relacionamentos em alguns casos resulta bastante confusa). Sobre a advertência ecológica: aparece com imagens fortes e um rumo escatológico marcado. A absurda contaminação ambiental e a impiedosa matança e maus tratos aos animais também são evidenciados, dando margem a uma melhor compreensão dos interesses e estado anímico do grupo adolescente e, também, conduzindo a um final que procura – e talvez consiga, agora sim – ser chocante. Similar, em algum sentido, à primeira cena pois se no início houve um suicídio individual, no final se evidencia um suicídio coletivo. Diferente, em outro modo, as emoções neste último caso, parecem aflorar.


Porém, também naquela acumulação de assuntos abordados (adolescência, escola, mistério na natureza, ecologia) pode haver uma faca de dois gumes: a perda de um objetivo central (o denominado superobjetivo do filme) e um caminho coeso para obtê-lo. Porque já a problemática dos adolescentes por si mesma traz inúmeros elementos e se a isso se acrescentam outras temáticas (p.ex. a ecológica), o resultado pode ter um certo grau de dispersão. Outro elemento que deve ser considerado são as simetrias que esboça o filme. Por exemplo, as duplas professor titular-professor substituto, suicídio individual-suicídio planetário, duas professoras diferentes, etc. Porém, nada disso é aprofundado em O Professor Substituto. Ficam como possibilidades não devidamente aproveitadas, em um rascunho que não acaba de definir-se com traços precisos. Talvez o diretor atinja esse nível em um próximo trabalho. Seja como for, O Professor Substituto não deixa de ser interessante e, por momentos, inquietante.

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