sábado, 16 de novembro de 2019

Crítica Cinema | O Irlandês

(Descomunal realização cinematográfica)


Sinopse: Robert De Niro, Al Pacino e Joe Pesci estrelam O Irlandês, saga épica do diretor Martin Scorsese sobre o crime organizado nos Estados Unidos pós-guerra. É contado sob a perspectiva de Frank Sheeran, um veterano da Segunda Guerra Mundial e assassino profissional que trabalhou ao lado de algumas das personalidades mais marcantes do século 20. O filme narra um dos grandes mistérios não resolvidos da história americana – o desaparecimento do lendário líder sindical Jimmy Hoffa – e se transforma em uma jornada monumental pelos corredores do crime organizado: seus mecanismos, rivalidades e associações políticas. No elenco ainda temos Harvey Keitel, Bobby Cannavale, entre outros. Produção e distribuição da Netflix. Estreia 27 de novembro no serviço de Streming da empresa e dia 14 de novembro em cinemas selecionados. Para assistir ao trailer, clique aqui.

O Irlandês (The Irishman)


Trata-se de um filme enorme, não tanto pela duração (209’) quanto pela proposta e realização. Começando pelo diretor, o famoso, multipremiado e talentoso Martin Scorsese, seguido pelo elenco estelar (Robert De Niro, Al Pacino, Joe Pesci, etc.). Prosseguindo, com o pessoal técnico (a editora Thelma Schoonmaker, o fotógrafo Rodrigo Prieto e o roteirista Steven Zaillian, dentre os principais). Este conjunto de enormes talentos cinematográficos dá lugar a uma obra de características pouco habituais. É um relato violento, principalmente nos 2/3 iniciais. Impactante, com situações fortes e diálogos muito inteligentes, mas que não se esgota apenas nisso. Na parte final há uma preocupação com aspectos psicológicos, emocionais, de um improvável remorso do protagonista, um indivíduo violento, assassino extraordinariamente decidido e preciso. Também, próximo ao final, Scorsese não vai escamotear sua condição de ex-seminarista católico e oferecerá uma perspectiva religiosa sobre o personagem.

 
Não vamos esquecer de dizer que, em meio de tudo, há momentos de fino humor. Porém, o filme peca por não desenvolver mais a emoção nem nos personagens, nem nas situações, pois há uma certa frieza puramente descritiva. Isso também se instalará no público, que seguramente haverá de assistir com diversas cargas psicológicas – impacto, certo suspense, renovado interesse pelo que vai acontecendo – mas não com emoção terna. Scorsese não comete um erro bastante habitual: fazer elogios do protagonista ou procurar que o público simpatize ou admire esse indivíduo, que tem um grau avançado de transtorno psicológico e que, no final das contas, é um assassino profissional. Também não vamos a deixar de sinalizar que há um alastramento quase inevitável em um filme tão longo, isto principalmente em alguns diálogos que, apesar de tudo, tem sentido.


Voltando aos elementos técnico-artísticos: há cenas e sequências excelentes. Duas iniciais (um suposto pintor / uma proibição de fumar), onde a editora Schoonmaker – eterna colaboradora de Scorsese nas grandes realizações dele e ganhadora de três Oscar e dezenas de outros prêmios – faz um trabalho sutil, acompanhada com uma fotografia muito apurada do mexicano Rodrigo Prieto. Essas situações logo no começo do filme, onde por meio de falas iniciais e cortes drásticos sucessivos evidenciam obliquamente não só o que aconteceu, mas também quem é esse irlandês, essas situações, dizíamos, são aulas de cinema. Determinados planos trabalhados por Prieto, como o primeiro de uma roda de um carro que se desloca a velocidade exata e evidencia um perigo iminente, e tantos outros, fazem também parte desse conjunto de profissionais capacitados ao mais alto nível internacional do cinema mundial.


O Irlandês é também um relato que faz refletir – preferencialmente depois de assistido – sobre uma sociedade absolutamente corrupta, na qual juízes, políticos, empresários, sindicalistas, militares, delinquentes de diferente tipo e nível, se associam para ter poder. Onde o cinismo, as alianças reais ou aparentes, as traições, a brutalidade e a inteligência têm margens suficientes, em doses variáveis. E a inteligência está a serviço da maldade. A treta astuta, o clássico prêmio-castigo mafioso, o medo (“todo mundo tem medo”), a perversidade nas relações pessoais e grupais, são trazidos para a tela por Scorsese e incorporados por seus atores e atrizes. Destes sobressai Robert De Niro, em um trabalho completíssimo onde seu leque de ‘tiques’ se faz presente para colaborar com sua voz e outros gestos diversos, e criar um personagem inesquecível. Por outra parte, aquele conjunto de personagens, comuns alguns, sinistros outros, por seu significado e também porque várias sequências fazem lembrar nitidamente a O Poderoso Chefão, dão lugar a um porém. Por exemplo, no batismo ou no assassinato num bar há quase um calco daquele sensacional filme de Francis Ford Coppola. Acontece, então, que não fica muito claro se é uma coincidência, por tratar-se de hábitos constantes dos mafiosos italianos e então devem aparecer necessariamente em todo relato sobre eles, ou se é uma homenagem àquele outro filme. Seja como for, também esta pintura da sociedade deixa em evidência, como aquela anterior, uma sociedade corrupta. O Irlandês é um filme do mais alto nível, quase perfeito ou, melhor, perfeito para além de suas eventuais imperfeições.

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 Dúvidas, sugestões, parcerias e indicações: contato.parsageeks@gmail.com

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