quarta-feira, 8 de maio de 2019

Crítica Cinema | Longa Jornada Noite Adentro

(Filme chinês para público especial, com muita paciência)


Sinopse: Luo Hongwu (Jue Huang) retorna a Kaili, cidade natal de onde havia fugido há vários anos. Começa, então, sua busca pela mulher amada e nunca esquecida. Ela disse que se chamava Wan Quiwen (Wei Tang)... Também no elenco tem Sylvia Chang, Hong-Chi Lee, entre outros. Produção chinesa com direção de Bi Gan. Distribuição nacional pela Zeta Filmes.

Uma advertência prévia que deve ser feita ao público é que este filme apresenta um problema técnico sério na exibição, com o sistema 3-D e o uso dos óculos correspondentes. Embora no início do próprio filme se faz a advertência que não se trata de uma produção em 3-D, os óculos devem ser utilizados desde que começa a sessão para poder ler as legendas – o que vai prejudicar a qualidade das imagens. Isso obriga a alternar o uso que o espectador deve fazer de tais óculos, o que incomoda e atrapalha. Só a partir da metade da exibição as imagens também vão a corresponder ao mencionado sistema e o problema fica superado.

Longa Jornada Noite Adentro (Di qiu zui hou de ye wan)


Não é habitual no Brasil assistir um filme chinês. É uma experiência diferente, pelo idioma, as cores, o ritmo, por sua concepção de mundo, as relações que se estabelecem entre os personagens etc. Provável ou seguramente, chegam às telas brasileiras as obras mais destacadas ou mais ocidentalizadas. De todos modos, subsiste uma sensação de estar diante de algo não habitual. Porém, se o espectador supera essa distância, poderá encontrar-se com trabalhos diferentes, sim, mas bem interessantes. É o caso deste filme. A história é simples e até comum: um homem que conhece uma mulher, se apaixona por ela e logo a procura encontrar de novo. Porém, não sabe nem o nome, nem a idade, nem seu passado. É uma mulher que, quando ele começa a esquece-la, se lhe aparece em sonhos. A direção e o roteiro são de BI Gan, jovem e totalmente desconhecido autor – só mencionado e algumas vezes premiado em seu próprio país e em alguns festivais orientais. Mas em ambas funções, resulta ser criativo. O filme está muito bem concebido e executado, embora demande muita paciência dos espectadores ocidentais. Tem virtudes enormes: se ocupa de diversos assuntos, tais como o que é realidade e o que não é; as coincidências e diferenças entre os filmes e a memória; o que são os sonhos; o papel do misterioso nesta vida etc.


Nesse sentido, o conteúdo é excelente. Já na narrativa fílmica, há uma certa ambivalência: por um lado, há cenas muito lentas – sempre para nossa mentalidade – e uma duração total prolongada (133’ que poderiam ser algo menos, como consignado para a exibição em outros países: 110’). Por outra parte, há recursos cinematográficos exímios: por exemplo, se apresentam personagens, objetos, símbolos, situações, que depois são recuperados, com um sentido novo, esclarecedor. O espectador atento poderá desfrutar de tais repetições – que são diversas e muito inteligentes. Assistir de novo o filme deveria dar-lhes variadas perspectivas a essas reaparições. Basicamente, estamos diante de simetrias fílmicas bem interessantes. Esse conceito de simetrias em um filme, para alguns teóricos do cinema, é fundamental. Aqui é necessário falar da edição, de Yanan Qin, com esses acertos – obviamente em trabalho conjunto com o diretor – mas também com algumas incoerências que dão lugar a lacunas na narração. E não devemos esquecer que faz pouco tempo tivemos a oportunidade de assistir a um filme com linguagem similar neste sentido: Green Book – bem ocidental, por sinal. Que também fornecia dados, informações que depois eram recobradas para esclarecer, reforçar ou modificar sentidos, significados. Falando em diferenças e coincidências entre cinemas de tão distantes origens, devem ser mencionados os créditos finais, pois oferecem uma nova surpresa: as listas de participantes (em especial, técnicos) para a produção do filme, são muito extensas. Em termos de tempo devem ser uns 5 ou 6 minutos como mínimo, já que são acompanhadas por três ou quatro temas musicais. Nada a invejar dos blockbusters anglo-americanos, claro que em Longa Jornada Noite Adentro, com um orçamento bem menor.


Ao repassar esta realização não se pode esquecer das atuações, com extenso trabalho de Jue Huan, o protagonista, e a muito boa tarefa da bonita Wei Tang – que por momentos faz lembrar a já mundialmente famosa Gong Li -. A fotografia de Hung-i-Yao é primorosa, com cores muito bem escolhidas – inclusive no figurino, feito por Hua Li e Chu-Chen Yeh. Destaque para ele, considerando que principalmente na primeira parte do filme os locais e o clima geral são sórdidos, decadentes, velhos, escuros. Já em outros momentos há outro clima, mas a mesma competência do iluminador. Também a música, do jovem compositor Chih-Yun Hsu, resulta ser uma mistura de ritmos orientais e ocidentais que na última parte chamam a atenção e evidenciam um espírito musical criativo. Longa Jornada Noite Adentro há uma coexistência de elementos policiais, dramáticos e românticos que dão uma série de sabores que o espectador poderá curtir. Belo filme chinês para público especial, com muita paciência.

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